ARTE E CONSCIÊNCIA #3

Realidade e Verdade

Todo o conhecimento da realidade parte do nosso entendimento do que essa realidade é ou representa. Este conhecimento tem basicamente duas "verdades": aquela que nos é transmitida como verdade e na qual acreditamos, e aquela que se torna a nossa verdade. A verdade que é apreendida por nós e que nos coloca em confronto com a realidade que nos é transmitida. Então a nossa realidade resulta basicamente do confronto entre uma realidade que nos é transmitida (e na qual acreditamos como sendo a realidade) e aquela que vamos apreendendo quotidianamente, dia a dia. São dois tipos de conhecimento em constante confronto e que constituem a nossa realidade.

A realidade de cada um corresponde à sua própria verdade? O que é a realidade de cada um? O que é a minha realidade? Será a realidade a minha vida? Estando a nossa vida condicionada por inúmeros fatores, não será esta uma ilusão? E assim sendo, a realidade uma mera ilusão? E sendo a realidade a verdade, não será a própria verdade uma ilusão?

A realidade de cada um é a forma como cada um apreende aquilo que o rodeia e que constitui a sua vida. Será a vida, a existência, a verdade? O real é verdadeiro? O que é verdadeiro e o que é real? Serão ambos a mesma coisa?

A realidade de cada um é a sua própria vida. Na generalidade, a vida é pensada em termos das experiências que se viveram, ou seja, do passado. A realidade de cada um é identificada com o passado, que é algo estático. Que aconteceu e, portanto, não muda.

O que é o real? O real é o que eu perceciono. O que eu perceciono está sujeito a condicionamentos vários. Logo, o que considero real é uma ilusão. Logo o real, o verdadeiro, está para além da perceção. Do inteligível. O real é algo exterior. A verdade é algo interior. O real é percetível. A verdade não. A verdade é intuível. A realidade mutável. Como a vida. O mundo.

A verdade é imutável. Não muda. A verdade é a essência. É aquilo que nós somos. A realidade aquilo que experienciamos.

A verdade é a existência desprovida de condicionamentos. A verdade de cada um é algo igual a si mesmo. A verdade é o Ser. O verdadeiro SER, aquele que reside na mais profunda cavidade de nós mesmos, está para além do alcance da mente e dos sentidos. Sabemos que ele existe, que ele está lá, algures.

Assim temos uma realidade plausível, mutável, que é percebida pelo indivíduo e pela sociedade, realidades que se confrontam permanentemente, porque nos identificamos com ela. Mas aquilo que somos reside na profundidade, e não é percetível pelos sentidos ou pela mente, e muito menos pela sociedade.

A nossa realidade surge do confronto. Entre aquilo que a sociedade quer que sejamos e aquilo que somos (ou desejamos ser). Entre o passado (que nos trouxe até aqui) e a nossa perceção do que é estar aqui, ou seja, o presente-futuro. Um presente que se quer futuro, se deseja futuro e um futuro que já é presente. Ou seja, uma realidade que está em constante movimento, e como tal, em permanente confronto.

A perceção da realidade aponta para uma espécie de conformismo. Aquilo que apreendemos é a nossa realidade, que confundimos com verdade, essência. Atribuímos essa particularidade ao passado. É o passado que nos dá consistência. Que nos diz o que somos. Que revela a nossa verdade. Mas a nossa realidade não reside exclusivamente no passado. Ela concebe-se no momento presente, que é mutabilidade. Transformação. E essa transformação não é apreensível pela sociedade. Esta precisa de tempo e espaço para apreender um indivíduo. Logo aquilo que perceciona é o passado, apenas uma parte da transformação, que identifica com o atual. Assim, existe sempre um confronto entre aquilo que se pensa que se é (incutido pela perceção exterior social) e aquilo que verdadeiramente se é. Porque aquilo que se é está algures entre o passado e o futuro, nesse intervalo de transformação total que é a própria vida.

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