GNOSIS - 02-02-20

Com a série Gnose procura-se apresentar os momentos fundamentais do desenvolvimento da consciência humana, segundo a tradição esotérica.
A série divide-se em sete imagens, que referem sete momentos fundamentais na evolução da consciência do homem. Desde a criação do cosmos até à criação da consciência do homem, primeiro colectiva e exterior, depois individual e interior. A ideia de colectividade está subjacente aos deuses e às respectivas famílias, que imitam as famílias humanas, posteriormente transferidas para uma consciência individual (um único deus) e interior.
As imagens referem sete episódios: a criação do mundo (do cosmos), a criação do homem e a sua relação com o cosmos, a tentação de Adão e Eva, os deuses e o cosmos como espelho da vida na terra, a multiculturalidade e a consciência colectiva, a divindade interior.
O desenvolvimento da consciência, inerente aos episódios abordados, parte da ideia de uma consciência ou mente universal exterior ao homem. Efetivamente, no início, o homem tomou consciência do meio que o rodeava, da mesma forma que uma câmara capta uma determinada imagem. Sem consciência de si próprio e como mero usufruídor / sofredor da vida, os fatos da vida, o destino da vida, são dados pelos deuses, por causas externas à decisão dos homens.
A evolução parte de fora para dentro, tendo como primeiro centro, as estrelas e planetas, que personificam os primeiros deuses. Este fato deriva do impacto que as estrelas (e nomeadamente o céu nocturno) tinha nas comunidades primitivas. Desta forma, o primeiro acto de consciência foi colocado pelo primeiro homem ao olhar o céu estrelado da noite: o que são esses pontos luminosos que brilham na noite? São seres poderosos que nos olham e nos aconselham sobre as nossas próprias acções. Esta ideia trás obviamente duas associadas: primeiro a da existência de seres superiores que comandam os nossos destinos (e que vivem lá no alto, lá em cima, o Olimpo, o Céu), o segundo, a da consciência do homem como um ser mortal cuja vida / destino a deve aos deuses (e que vive cá em baixo, na Terra). Esta ideia trás a primeira noção de espiritualidade, que ainda hoje prevalece: a de que a espiritualidade (deus(es) / céu)  se situa acima da materialidade (homem / terra).
Se os deuses que residem no universo são os responsáveis pela nossa existência, logo devem ter surgido primeiro que o próprio homem. Daqui surge a ideia de origem (não só do homem, mas do universo e dos próprios deuses). Todas as teorias da criação partem de um ser criador do universo (e das suas leis) e do próprio homem.
Seguidamente temos a criação do homem como um ser “primitivo”, que vegeta pelo mundo, sem consciência de si mesmo ou do próprio mundo. Até que tropeça na serpente. Este tropeção resulta na “queda” no materialismo e na morte. É o cair da árvore para a savana e o início do caminhar em pé. O início do livre arbítrio. A tomada de consciência da sua integração num contexto do mundo.
Após qualquer queda temos de nos reerguer. E toda a aventura do homem, até aos nossos dias, tem sido a tentativa de se reerguer dessa queda. Com a “queda” o homem ganhou conhecimento e o poder de decisão, mas perdeu o seu contexto universal, a espiritualidade que lhe permitia ser “uno” com o cosmos. A partir da queda, o homem iniciou uma luta sem tréguas contra o seu próprio ser, uma vez que perdeu o (ou tomou consciência)  seu rumo. É como se se tivesse desviado da estrada sem conseguir agora encontrar o caminho de volta.
É neste sentido que construiu a divindade, uma projecção desse desejo em se tornar universal (sem perceber que efectivamente, sempre o foi). A estrada de regresso sempre esteve lá, mas o homem seguiu sempre pela estrada errada, cego na sua ignorância. E este regresso está sendo feito pelo caminho mais longo e penoso.
A primeira noção de divindade surgiu a partir do cosmos. Do céu. Uma noção que se opunha à da vida terrena, espelhando-a e modelando-a. O nosso destino passa a ser controlado pelos deuses. Pelas “estrelas”.
Estando a divindade localizada lá no alto, torna-se fundamental estabelecer pontes com o lado de cima: os credos e as religiões são pontes com o lado de cima, são o tronco da árvore que liga a raiz à copa da árvore. E é precisamente na procura do divino que reparamos nas estrelas e na sua posição, no Sol e na Lua, e na sua identificação com as primeiras divindades. Graças a estas divindades estabelecemos a nossa posição no universo, delimitamos o nosso espaço em função dos pontos cardiais. “Vejam! Este é o nosso lugar no mundo!” E edificamos grandes monumentos celebrando tamanho acontecimento. Estamos finalmente aqui. Este é o nosso lugar.
Mas esta constatação não basta. Queremos mais. Queremos ser deuses. Queremos ser especiais e donos dos nossos destinos. Cada um mais especial que o outro. Mais “deus” que o outro. Somos demasiadas estrelas e não podemos brilhar no meio de tanto firmamento. Olhamos cada vez mais para cima. Construímos mais para cima. Mais e mais. Afastamo-nos cada vez mais da encruzilhada de regresso.
Perdidos, aguardamos por uma nova estrela que nos devolva ao início do caminho.