ARTE E CONSCIÊNCIA #04
O Conflito
Todo conhecimento gera confronto. E onde existe confronto há desarmonia. Logo será a essência da Humanidade a própria desarmonia?
A essência é associada há simplicidade, há harmonia sem conflitualidade. Assim, se eliminarmos a conflitualidade poderemos regressar há harmonia da essência, há harmonia primordial (vaticinada por todas as religiões).
A harmonia primordial é associada ao Paraíso bíblico, ao tempo anterior ao bem e ao mal, ao tempo do livre arbítrio, ao tempo anterior ao conhecimento. Ao tempo anterior há consciência. A harmonia primordial é a harmonia do vazio e do silêncio. O que existia antes da consciência? É a consciência que nos permite existir. É a consciência que nos permite ter conhecimento dela, aperceber-nos dela. Sem a consciência, nem a ideia de existência existe. Logo, esta ideia de harmonia primordial anterior há própria existência não existe. Ansiar por esta harmonia é desejar não existir. Como tal, não faz sentido.
Estar em harmonia com o mundo é estarmos em paz connosco próprios. É eliminar o conflito em nós próprios. E este conflito resulta entre a imagem que temos e aquela que o mundo faz de nós. Ou seja, resulta de um conflito de interesses que, na realidade, são meras suposições e que não correspondem à realidade: são meras imagens que construímos para satisfazer os nossos próprios desejos e interesses. E estes desejos e interesses variam de indivíduo para indivíduo. E se os interesses não são comuns - nunca podem sê-lo -, o conflito nunca cessará. E não poderá haver harmonia. Só haverá harmonia quando a imagem que vemos no espelho e aquela que o espelho reflete for igual. O que nunca é.
Só haverá harmonia quando não houver julgamento. Quando o que percecionamos estiver limpo do julgamento da mente e dos sentidos. O que, em certo sentido, não é possível. Quando o exterior for percecionado como algo exterior e não algo que é percecionado a partir do interior. Quando olhamos o exterior com os olhos do interior, nunca vamos ver verdadeiramente o exterior. Isto, porque o mundo interior e o mundo exterior se opõem, são antagónicos. Ou seja, não se espelham. Mas será que deveriam espelhar-se? E se tal acontecesse não seria um o inverso do outro, como na imagem do espelho? O interior e o exterior espelhar-se-iam verdadeiramente? Ou serão mundos de ordem completamente diferente?