ARTE E CONSCIÊNCIA #02

 
Para o artista não basta a perceção. A visão. Ter consciência dessa perceção. A Consciência dessa visão particular do mundo, visão que a todos é comum, mas que poucos conseguem identificá-la, de tal forma se encontram mergulhados nos assuntos existenciais da vida.

A maneira como vemos e sentimos o mundo está diretamente relacionada com as condições em que vivemos. A perceção interior só acontece, só existe quando alguma estabilidade, alguma segurança exterior nos impele à descoberta interior.  Conscientemente.

Por vezes esta abertura interior advém de condições extremas de insegurança, sendo essas condições despoletadoras de uma evolução da consciência. Por vezes, se não mesmo na maior parte das vezes, essa abertura é instintiva, faz parte do ato de sobrevivência, apelando a áreas mais profundas do nosso ser.

São essas forças, que impercetivelmente, nos impelem a atuar, que despoletam a Arte dentro do artista, essa perceção invulgar de perceber o mundo de uma forma muito peculiar que impele o indivíduo a manifestar-se de uma forma invulgar.

As forças criativas que se geram no interior do indivíduo têm de ser canalisadas na forma de objetos exteriores. A força criativa tem de se manifestar no exterior sob formas visíveis aos 5 sentidos, sob formas percetíveis.

Mas é preciso separar a força criativa do objeto criado. A força surge no interior, é canalisada a partir do interior numa forma exterior, num ato exterior. O objeto resultante, a ação resultante, é apenas um reflexo dessa força. A força é o sopro do vento, o objeto, a ação, o resultado, a erva que se verga sobre o seu soprar, os ramos da árvore que abanam ao passar da sua corrente.

O vento é algo invisível, conseguimos senti-lo, mas vê-lo propriamente não, apenas o conseguimos perceber através da sua ação sobre a erva ou as árvores...

E a atualidade valoriza mais a erva que se mexe, ou a árvore que perde as suas folhas, que a força que a faz mover. Valorizamos mais o objeto que a intenção. Porque o objeto pode ser partilhado, apropriado, mercantilizado, a intenção não. Aquilo que não se vê não pode ser apropriado. Uma ideia não pode ser apropriada se não for escrita, se não for comunicada. Não é possível apoderarmo-nos do pensamento ou do sentimento de alguém. E não é possível porque eles são do domínio do invisível.

"A Arte torna visível o invisível" (Paul Klee).

The Ascending Alnirus