A PROCURA
O que procuramos nós? Sim. Que procuramos todos
nesta vida, tão caótica, ruidosa, vertiginosa? Ao olharmos para ela sentimos
como se estivéssemos numa montanha russa a toda a velocidade... sem saber
quando ela terminará ou em que momento não descarrilaremos da montanha.
Ora o problema está na procura. E contrariamente
ao ditado, quem procura nem sempre alcança. A partir do momento em que nos
dispomos a procurar algo, estamos inevitavelmente a aceitar o facto que
poderemos não o encontrar. E apartir daqui, de imediato, surgem todas as
frustrações e ansiedades do ser humano.
Se procuramos é porque não estamos satisfeitos com
a vida. Não aceitamos a vida como ela é. Não na sua forma exterior, mas na sua
essência. Passamos o tempo a fugir dela. Ao procurar por algo hipotético, que
efetivamente não existe. Porque, em essência, o que é verdadeiramente
importante, está dentro de nós.
Ou seja, o que temos de encontrar é a nossa
própria essência, que é, no fundo, a essência do mundo. A essência do viver.
Passamos a vida inteira a procurar essa essência
no exterior. Através da aquisição de coisas, de objetos, de dinheiro, de
conhecimento. Acumulamos coisas e mais coisas. Enchemos a nossa casa de
brick-a-bracks, livros, quadros para
encher / tapar as paredes nuas, sem perceber que estamos simplesmente a ocultar
a “alma” da casa, as paredes que lhe dão consistência, que a fazem ser tal como
é. Um espaço interior tão amplo quanto a nossa imaginação, tão luminoso como a
nossa alma, tão mais confortável quanto a nossa essência.
Temos assim a nossa casa completamente atolhada de
coisas, coisas que acabam por não nos deixar respirar. Estamos presos de toda
esta poeira que fomos adquirindo com o tempo. E por isso, movemo-nos como cegos
num mundo que se tornou cego por natureza.
Movemo-nos airosos na nossa ostentação suprema de
“pequenos deuses”, estrelas luminosas num firmamento imaginado por cegos.
Mas, no fundo, estamos irremediavelmente sozinhos
nessa casa atolhada de poeira e objetos inúteis, sem sabermos o que fazer com
tudo isto. E esse isolamento, petrifica-nos de pânico. E por isso corremos a
comprar mais coisas, mais roupas, mais carros, óculos escuros, cada vez mais
doirados e mais escuros... E vamos ficando cada vez mais apertadinhos na nossa
casa... que já não comporta mais poeira... poeira que se foi, aos poucos,
entranhando nas paredes em forma de bolor...
Para percebermos que, afinal, a procura apenas nos
levou a um quarto bolorento...
Olhar conscientemente para este quarto bolorento,
é o princípio para conseguirmos olhar para além dele, para podermos abrir a
janela e deixar entrar a luz. Porque aquilo que o ser humano buscou desde
sempre foi nada mais que a sua LUZ.
Alnirus
"Opus Vitalis", Alnirus, 2019 |
(frame vídeo)