PRESSURE
“A Arte é cosa mentale” (Leonardo
Da Vinci).
A panela é a sua mente. O ar dentro dela a sua consciência. O estado da panela depende da qualidade da sua consciência. E esta comanda tudo.
No entanto, alguns de nós, conseguimos ver para
além dos óculos, aliás, esses óculos são tão especiais que vemos o que mais
ninguém vê. Os nossos óculos permitem-nos ver para além da realidade. Esses são
os óculos do Iniciado... E esses óculos são insubstituíveis e impartilháveis.
Esses óculos são a porta de acesso ao eu interior. A esses óculos chamou
Kandinsky de “Necessidade Interior”. Esta necessidade interior é a qualidade da
consciência que nos permite aceder a mundos que são próprios de cada um de nós,
intransmissíveis, impartilháveis e, apenas toscamente imaginados. Mas são estes
mundos interiores que o artista tenta “toscamente” partilhar com o mundo.
Infelizmente, o mundo só vê a panela de pressão, sem conseguir atingir
verdadeiramente o ar que reside no seu interior.
A arte é coisa mental. Ou seja, da mente. É na
mente que concebemos a arte, é na mente que identificamos a arte, mas não é na
mente que criamos ARTE.
A mente é constituída pelo instinto, pela inteligência
e pela intuição, os três graus de consciência da mente. Desde a nascença, a
culturalização vai aos poucos aniquilando a intuição trazendo à tona os
instintos mais básicos do ser. Estes instintos básicos (de sobrevivência) são
reprimidos (ou acentuados) pela cultura social e religiosa transformando o ser
humano numa panela de pressão pronta a rebentar. Toda a fonte de frustrações
(individuais e coletivas) são produto desta repressão, de todo um conjunto de
leis a que nos submetemos em prol da convivência / sobrevivência social.
E é dentro desta panela de pressão que o Homem
vive na atualidade. Vive angustiadamente a conter a sua força interior na
esperança que a panela não rebente.
Desta forma, tudo o que o homem vive, vive-o sob
pressão. O seu modo de estar não é natural.
Procurando aliviar a pressão que sente dentro de
si o homem tem ao longo do tempo procurado variadas formas para conseguir
coexistir com essa pressão.
Foram assim criadas as industrias do
entretenimento e do lazer para “entreter” o homem e não deitar mais fogo na
pressão da panela. Estas industrias servem apenas para mascarar o problema,
para distrair o homem daquilo que é verdadeiramente importante: abrir de vez a
tampa da panela e acabar com a pressão.
Mas a pressão reside na própria mente do
homem. É preciso mudar a qualidade do ar para que a pressão reduza.
E aqui reside o problema: estamos mais preocupados
com as paredes da panela que com o calor do ar dentro dela. Estamos mais
preocupados com os factos da inteligência que com a sabedoria da intuição.
Entre uma das atividades terapêuticas (usadas para
baixar a pressão da panela) temos a arte. Mas a arte está ao nível das outras
atividades recreativas, sem força para mudarem a qualidade do ar dentro da
panela. Quando muito, elas apenas reduzem o calor no seu interior.
Para terem sucesso, essas atividades deveriam ser
como uma corrida de olhos fechados, queimando todos os medos e preconceitos
acumulados nas paredes da panela.
Ou seja, para que estas possam ter efeito,
deveríamos mudar o centro de atenção, deixando de nos focar na panela em si e
sim no que está no seu interior.
Este é o verdadeiro caminho do iniciado. Olhar para o centro da panela e não para a
panela em si.
"Under Pressure", Alnirus (projeto para video instalação) |
A panela é a sua mente. O ar dentro dela a sua consciência. O estado da panela depende da qualidade da sua consciência. E esta comanda tudo.
É o nível da sua consciência que o fará olhar para
o mundo de uma maneira ou de outra. E em arte o que importa é a qualidade do
Olhar.
Através do olhar podemos simplesmente observar ou
VER verdadeiramente. Nos dias de hoje todos observam, mas são poucos os que vêm
verdadeiramente. Como Iniciado da Chama o seu propósito é VER VERDADEIRAMENTE.
Ver a verdade. Ver+dade (qualidade).
A verdade é a qualidade do ver.
Hoje pouco vemos por causa dos óculos da cultura.
Do conhecimento. Quanto mais conhecemos mais cegos ficamos. E aquilo que
importa é a beleza dos óculos. Da forma como os outros nos olham. Queremos
agradar-lhes e por isso usamos óculos que nos escondem os olhos, a identidade,
o ser interior, a chama interior.
Ou seja, para agradar aos outros, anulamos a nossa
identidade, ocultamo-la. Colocamos óculos cada vez mais escuros, espelhados,
para que se não possa ver o nosso interior. Mas esses óculos rapidamente se
transformam em vendas que com o tempo vão não só tapando os olhos, mas os
ouvidos, a cara toda, adormecendo os sentidos e a intuição. Ao querer ocultar a
nossa realidade aos outros acabamos por anular a nossa capacidade de perceção.
"Les Amants"; René Magritte, 1923 |
Alnirus