DUST CREATION


Iniciarei hoje um conjunto de reflexões destinadas aos Iniciados da Chama, os discípulos de Alnirus, mas também aberto a um público mais vasto amante das artes e do pensar sobre a condição do humano.
A primeira reflexão reside sobre o conceito de Criação. Mais especificamente sobre a Criação do Mundo.
Em todas as descrições sobre a criação do mundo de textos antigos, nomeadamente do Genesis e da mitologia grega, no início existia o vazio. O Nada. Só posteriormente é que se iniciou a criação.
Podemos estabelecer uma analogia com a criação plástica, “no início existia a tela branca” (Kandinsky). Desta forma, toda a descrição da Criação parte desta ideia do vazio, inerente à conceção plástica.
Mas debrucemo-nos um pouco sobre a palavra “criação” e a palavra “mundo”. Criação é o ato de criar e criar vem do latim creare que significa “produzir, erguer”, relacionando-se com crescere, “crescer, aumentar”. Logo todo o ato de criação pressupõe o seu desenvolvimento; ou seja, o movimento. A ação de criar, de produzir, de desenvolver / crescer. Concluindo: criar é transformar; originar e desenvolver a forma.
Esta forma é o mundo. O Cosmos.
O Cosmos está em constante expansão, mas ao mesmo tempo, contrai-se. Podemos comparar o “movimento” cósmico ao respirar dos pulmões. Ele acontece independentemente do desejo do homem. É intrínseco. Faz parte da sua estrutura. Da sua existência.

Artista desconhecido
(In, L'Atmosphère: Météorologie Populaire, Camille Flammarion,  Paris, 1888, pp. 163)

O mundo rege-se por leis próprias, se quisermos, cósmicas. Durante toda a sua vida o Homem tem procurado perceber que leis são essas e como elas funcionam. Com base na experiência e na comparação, fomos descobrindo forças que atuam similarmente no nosso planeta e fora dele e demos-lhe nomes e significados. E ao atribuir estes significados deparamo-nos com o problema da originalidade. Se uma das leis do universo é a de causa e efeito, qual força despoletou toda a criação? O que levou ao início de tudo?
Como a experiência de criação é meramente humana a questão transformou-se em quem deu início à Criação? Quem desenhou o primeiro risco na tela do universo, quem criou as cores do cosmos na planta do universo?
E destas questões surgiram duas teorias: a primeira responde ao quem – uma figura, ela própria carregada de significações cosmológicas, o Sol, Urano, Zeus, Deus, todos eles possuindo uma representação humana -, a segunda ao que – a teoria do Big Bang.
Não procuro aqui defender qualquer uma das teorias referidas, apenas situa-las no contexto da experiência criativa humana.
Tomando ainda como referência as duas teorias “criativas”, temos uma teoria criativa humana e outra, chamemos-lhe supra-humana. Ou seja, que não resulta da ação humana, e à qual poderíamos de chamar de “natural ou cosmológica”.
Temos assim no mundo dois tipos de criação: a humana e a natural. Desde os primórdios o homem sempre tentou “imitar” a criação natural. No entanto, aos poucos, ele começou a afastar-se cada vez mais dela acabando por entrar em competição, que resultou na destruição do habitat do próprio homem.
Chegamos assim à razão de ser destas próprias reflexões e há razão de ser do “ressuscitar” dos ensinamentos subentendidos aos Iniciados da Chama.
Os iniciados da Chama são seres criativos, homens e mulheres cuja sensibilidade os impede de aceitar o mundo no que ele se tornou, que aspiram, pela sua atuação artística, despertar o mundo para uma nova / velha realidade, entretanto adormecida pelo peso dos séculos de quilos e quilos de poeira. Os Iniciados da Chama pretendem iluminar o caminho para fora deste nevoeiro em que a nossa vida se transformou.
 
Alnirus

“Conscience Dust”, Alnirus, 2019